segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Para ver outras publicações...

FRANCISCO DE FREITAS LEITE no facebook.

Questão do vestibular 2012.2 da URCA

URCA/2012.2
Em: “O frio da noite densa
abria o escuro com pedacinhos de água...”
O fragmento, acima, é a primeira estrofe do poema Lanterna Azul, do Livro ‘’Fuga pela
clarabóia’’ de Francisco Freitas Leite. A figura gerada pelo verbo do segundo verso, é:
a) Oxímoro
b) Prosopopéia
c) Metonímia
d) Antítese
e) Paradoxo

domingo, 25 de março de 2012

Matéria da Revista Língua Portuguesa (março de 2012)

Academia

Latim do Cariri

Mestrado defendido na Paraíba aponta o domínio do latim como recurso para a distinção social

Henrique Braga e Marcelo Módolo


Padre Cícero: língua viva no sertão

Para tristeza dos saudosistas, a língua latina - tida como língua morta - deixou há tempos de ser matéria obrigatória na formação dos brasileiros. Mas seu prestígio segue reconhecido, sobretudo por ser a língua oficial da Igreja Católica, e por sua presença no Direito (Dura lex, sed lex).
É esse mesmo idioma que o linguista Francisco de Freitas Leite analisou em cartas de pessoas do sul do Ceará, compostas entre a segunda metade do século 19 e a primeira do 20. Na dissertação de mestrado O Latim em Cartas do Cariri Cearense - defendida na Universidade Federal da Paraíba -, mostra-se como, a despeito do que já há tempos muitos dizem, o latim não morreu.
Latim rima com Cariri? Supomos que essa pergunta seja comum a muita gente que se depara com o título dado por Leite a seu estudo. Parece haver um contraste entre o imaginário construído sobre a pouco acessível língua latina, privilégio de uns poucos doutos, e a sonoridade indígena - e, portanto, bastante brasileira - do nome "Cariri". Com vistas a situar o leitor menos versado na história e geografia do Estado do Ceará - e, consequentemente, desfazer o preconceito segundo o qual o latim ali surge como algo exótico -, dedica-se na dissertação um capítulo inteiro ao contexto histórico, sociocultural e educacional caririense.

Significado social
Segundo Leite, a região, do sul do Ceará, compreende importantes cidades, como Crato e Juazeiro do Norte. Na primeira, o Movimento Libertador de Pernambuco, apoiado por ricos e influentes fazendeiros da localidade, proclamou em 1817 uma república, cuja duração, porém, não passou de oito dias. Em sua vizinha Juazeiro, teve lugar o polêmico milagre da hóstia que se transformava em sangue de Cristo, desencadeado pelo padre Cícero Romão Batista, o "Padin Ciço", um dos autores das cartas e telegramas analisados.
Os ricos produtores e os religiosos integravam uma elite do Cariri, não só pelo peso político - o próprio padre Cícero chegou a ser prefeito de Juazeiro do Norte -, mas pelo acesso à cultura: a falta de um governo que pudesse prover o ensino laico a todos os cidadãos era um dos motivos pelos quais, nos moldes do que se passava na península Ibérica na Idade Média, os seminários fossem centros de formação, educando os futuros clérigos e os filhos da classe privilegiada. Como até hoje a língua é idioma oficial do Vaticano, não é de espantar que aulas de latim fossem obrigatórias na educação oferecida àqueles jovens.
Todo esse rico cenário sociocultural foi considerado por Leite ao se debruçar sobre um conjunto de 55 cartas, selecionadas para empreender sua pesquisa. O foco, em poucas palavras, era compreender por que em certas circunstâncias se usava o latim em vez da língua vernácula. Perguntas como "quem escrevia em latim?", "para tratar de que tipo de tema?", "visando a obter quais efeitos?" nortearam a análise linguística sobre os documentos.

Latim em pó
Para buscar respostas, o autor dividiu as cartas segundo certos critérios. Para que se pudessem identificar contextos de favorecimento ao latim, um dos grupos era formado por cartas sem qualquer uso do idioma. Outro critério analisado foi se o latim aparecia só na saudação inicial e/ou na despedida (por exemplo, a expressão Et orabo ad Dominum ["E orarei ao Senhor"]). Foram agrupadas cartas em que o latim aparecia em frases feitas, como provérbios ou expressões consagradas (numa carta se lê, à ocasião de agradecer, verbo et opere ["com palavra e obra"]). Fora esses casos, foram encontrados documentos escritos integralmente em língua latina.
Uma constatação - esperada - foi que as expressões latinas eram recurso explorado por uma elite, a quem foi facultado acesso ao ensino formal e, portanto, a uma das línguas de cultura da época (a outra era o francês): em 91% das cartas nas quais se recorria ao latim, o enunciador era indivíduo com alto grau de escolarização.
Outra constatação - das mais instigantes da pesquisa - foi a de que, mais que o emissor, o destinatário era fator fundamental para que o missivista se valesse ou não de conhecimentos de latim: nesses 91% de cartas com uso de latim, também os receptores tinham elevado grau de instrução. Como observa o autor, as expressões latinas iam muito além dos significados referenciais "Jesus Cristo seja louvado" ou "orarei ao Senhor", por exemplo. Diziam algo como "cumprimentemo-nos numa língua reservada a uns poucos da elite cultural e pela qual podemos também nos identificar".
Pensando em identificar valores sociais no uso do idioma, Leite aponta que nesse conjunto de 91% de cartas, os destinatários eram, além de eruditos, religiosos. Para o pesquisador, esse dado revela o tom cerimonioso assumido por esses usos. É como se o enunciador reconhecesse a língua latina como adequada para prestar reverência à "santidade" de seu enunciatário.
Leite constatou que indivíduos com alto grau de escolarização não faziam uso do latim quando tratavam com enunciatários menos escolarizados. Na hipótese aventada por Leite, um dos fatores responsáveis pelo fenômeno era o receio do enunciador de soar pedante frente a seu receptor. Nessas circunstâncias, demonstrar o precioso conhecimento daquele idioma não cumpriria o melhor efeito possível. Eram ocasiões em que o bom-senso recomendava que o emissor "não gastasse o seu latim", de onde, na hipótese de Leite, adveio essa expressão popular.

O latim de padre Cícero
Em um telegrama, todo em latim, enviado ao papa Leão XIII, em 2 de junho de 1896, padre Cícero coloca o papa na posição de Jesus para fazer um pedido. Por isso, a forma do texto é como a de uma prece.
Sanctissime Pater
Per angustias tuas suscipe apellationem facti Joaseiro, succurre millibus filiorum persecutorum, mitte comissionem, humiliter petimus expensis nostris. Per Jesum benigne respondere digneris.
                         Presbyter Cicero Romanus
Santíssimo Padre,
Pedimos humildemente que acolha, sob seu cuidado, a apelação da questão de Juazeiro, enviando uma comissão, às nossas custas, e assim socorrendo milhares de filhos perseguidos. Queira por gentileza responder, em nome de Jesus.
                                                   Padre Cícero Romão

ConfiraPara os sociolinguistas e latinistas de plantão, em formato de livro digital:
LEITE, Francisco de Freitas. O Latim em Cartas do Cariri Cearense (Final do Século XIX e Início do Século XX). João Pessoa, Ideia, 2009, 159 pp. ISBN 85-7539-495-3.
Vale a pena conferi-lo, apesar de algumas traduções - feitas pelo autor - às vezes não muito felizes.


Henrique Braga é doutorando na área de Filologia e Língua Portuguesa da USP, professor e autor de materiais didáticos do Curso Anglo Vestibulares;
Marcelo Módolo é professor doutor e pesquisador na área de Filologia e Língua Portuguesa da USP
academia.revistalingua@gmail.com
Fonte: http://revistalinguaportuguesa.kubbix.com/textos/77/artigo252582-1.asp

sexta-feira, 23 de março de 2012

Questão da prova de Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa do vestibular da URCA

URCA/2012.1 - Considere o poema abaixo e assinale a alternativa que apresenta o recurso estilístico mais evidente e a frequência com que este recurso é observado na poesia de Francisco de Freitas Leite:

VINGANÇA

O preá cai no fojo
e  sente medo do escuro.

O menino bota a mão no fojo
e tem medo do preá.

O preá morde o menino
e o menino come o preá.

(LEITE, Francisco de Freitas. Fuga pela claraboia. Crato-CE: Autor independente, 1997, p. 46.)

a)             Paralelismo – raramente
b)             Anástrofe – raramente
c)             Hipálage – frequentemente
d)            Sinédoque – raramente
e)             Hipérbole – frequentemente

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Outro poema do livro "Fuga pela claraboia"


POLISSÍNDETO DO INVERNO EM BRASÍLIA

É inverno
e manhãs são frias
e bichinhos aprendem a voar
e vento traz saudades insólitas
depois que ficamos sozinhos
e no céu ainda pipas
como crianças que brincam.
Dormimos até tarde
e fazemos poesia
e somos lembrados
como os blusões de lã
e ainda cheiro de comida quente
e best-seller quentíssimo
depois de espreguiçar a poltrona.
O charuto é lembrado
e cartas esperam respostas;
postais da catedral para quem?
e sem pressa, revemos fotos
enquanto formiguinhas vigiam o chá
e telhas úmidas carreiam neblina.
Há canções calmas
e sem sermos doentes
fingimos carência
e vemos avezinhas orvalhadas
e filmes de neves de natais estrangeiros;
pela casa, réplicas – acho – de Lautrec
e as peças de xadrez sem estrategistas.

domingo, 9 de outubro de 2011

RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO A MIM DIRIGIDO POR POLLIANA


Freitas, como um de seus livros vai cair no vestibular da URCA, queria saber:

1)             Qual seu estilo?
Em minha poesia como um todo (considerados os quatro livros publicados e os inéditos), não consigo definir um estilo que a caracterize definitivamente (talvez a falta de um estilo determinado seja sua marca) e prefiro vê-la como poesia típica do ecletismo pós-moderno, mas um outro (um crítico vendo-a com o discernimento próprio do que olha de fora) possa-a melhor identificar nela um estilo que eu, com autor (de tão de dentro que a observo), não consigo enxergar.
Em Fuga pela claraboia em particular, (diferentemente de Nacos, cujo estilo formal de poesia visual é a marca principal) o estilo da poesia versificada sem rima e sem métrica de gosto mais jovial ocorre predominantemente. Não há uma temática rígida a não ser a inquietação poética do olhar inventivo do poeta no cotidiano das gentes.

2)             Sua inspiração?
Em fuga pela clarabóia aparecem poemas com diversas temáticas e de motivos diversos. Não há uma inspiração única (como o sertão reinventado de Ave, sertão!), mas uma coleção de poemas reunidos pelo pretenso desejo de constituir um livro leve e de leitura ao gosto de um público jovem.

3)             Você segue alguma corrente?
Não. Correntes prendem e, como já dizia Belchior, “não vou eu mesmo atar minha mão”... prefiro estar à vontade para seguir aonde levar a poesia.

4)             Quais são as principais características notadas em seus poemas ou escritos?
Falando exclusivamente de Fuga pela claraboia, quanto à forma a principal característica é a não adoção de forma fixas de poemas e o, como já dito, o uso de versos sem rima e sem métrica, mas organizados conforme o ritmo ou em função da expressividade poética; quanto ao conteúdo, é caro para mim o ser humano em seu interior conflituoso e em seu exterior processual.

5)             Como poderíamos analisá-los?
Analisar poesia é tarefa complexa, porque poesia é mais pra ser sentida do que pra ser entendida ou compreendida. Isso quer dizer que, nessa tarefa, entram componentes individuais, vivenciais, mas também conhecimentos estéticos... ou seja, para se analisar poesia, tem-se de ter “leituras” que vão além das leituras poéticas... de qualquer forma, indico, como exemplos de análises e estudos da minha poesia, os prefácios dos quatro livros (em Fuga pela claraboia, o prefácio é de Íris Tavares), uma monografia sobre minha produção poética de autoria de Ana Cristina S. Prado e um artigo do professor Flávio Queiróz publicado no livro “As veredas da pesquisa em Letras: ensaios críticos e teóricos”.

Grata,
Polliana.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Fuga pela claraboia é meu segundo livro de poesia e foi publicado em 1997. Produção independente. Capa de Karimai, ilustrações de Fidel Charlie e apresentação de Íris Tavares.

ROL DOS MOTES

Se um raio não cai nunca
duas vezes no mesmo lugar,
por que não fazem para-raios descartáveis?
Dê-me um ponto no céu
e eu ponho uma quitanda.
O inglês é a língua universal
dos ianomâmis.
Aqui tudo se plantando dá
lá fora.
A indústria da seca
já foi privatizada?
Oh! Que saudades que tenho da Aurora
empregada de mamãe.
O poeta é um fingidor
como todo mundo.
A AIDS mata
menos que o medo de admiti-la.
A inflação vai cair
matando a pau.
De médico e louco
todo mundo corre às léguas.
                                 (In: Fuga pela claraboia)